Durante o Brasscom TecFórum Educação & Emprego, em São Paulo, painel destacou a necessidade de que empresas ajustem os seus processos seletivos para acompanhar a realidade social e econômica dos jovens que buscam a primeira oportunidade no mercado de tecnologia.
Segundo Marcela Zitune, superintendente do Instituto da Oportunidade Social (IOS), inúmeras barreiras aparecem já na etapa inicial da seleção. “Antes de exigir inglês ou aplicar um processo padrão, é preciso entender: esse jovem tem acesso à tecnologia para se inscrever? Ele tem um espaço adequado em casa para trabalhar em modelo híbrido?”, disse Zitune. Ela aponta que muitas vezes a resposta é negativa e faz um apelo por empatia e adaptação.
Ela destacou ainda que fatores socioeconômicos e emocionais influenciam a trajetória dos candidatos, que costumam conciliar estudos, trabalho e responsabilidades domésticas. “Não é raro que faltem ao trabalho para cuidar de um irmão ou enfrentar situações de violência doméstica. As empresas precisam oferecer respaldo emocional e compreender essa carga estrutural”, afirmou.
De acordo com a especialista, os processos seletivos muitas vezes exigem repertórios culturais distantes da realidade do jovem periférico ou impõem testes desnecessários. “O jovem da periferia tem repertório próprio, mas cobrar referências às quais ele não teve acesso não é justo. É preciso calibrar essas exigências para não excluir talentos já no início”, comentou.
Nesse contexto, Zitune ressaltou a importância de capacitar os gestores que vão receber os novos colaboradores. “Não adianta contratar se o gestor não sabe liderar, orientar ou mentorar. Precisamos também preparar quem está dentro da empresa para acolher esse jovem, evitando desligamento precoce”, completou.
O IOS, que forma cerca de 2.200 jovens por ano e emprega quase 1.500 deles, atua para aproximar candidatos e empresas, adaptando seleções e reforçando competências socioemocionais. “Muitos jovens não sabem sequer como se comportar em uma entrevista, como se vestir ou como falar com o gestor. Criar um ambiente mais acessível é essencial para reduzir a ansiedade e ampliar oportunidades”, concluiu Zitune.