O avanço da fibra óptica no Brasil transformou o cenário das telecomunicações, levando operadoras a mirar na última milha invisível: o WiFi doméstico. Agentes de IA começam a moldar o atendimento, a gestão da rede e a percepção de qualidade dentro das residências.
Mesmo com a fibra chegando com qualidade até o modem, a experiência do usuário depende da cobertura interna. Atualmente, cerca de 94% dos domicílios urbanos têm acesso à internet, segundo o IBGE, e mais de 22,5 mil provedores enfrentam o desafio de evitar que falhas na cobertura interna gerem reclamações e churn.
Nesse novo cenário, inventários inteligentes de rede passam a consolidar dados que vão desde a topologia da fibra até os dispositivos conectados ao interior da casa. Quando atualizados e integrados, esses dados permitem correlacionar falhas desde a rua até o WiFi, abrindo caminho para ações preventivas.
A evolução, no entanto, vai além da catalogação de ativos: a leitura dinâmica dessas informações é realizada pela inteligência artificial. Agentes com realidade aumentada já sobrepõem dados de inventário aos equipamentos em campo, localizando anomalias e atualizando registros em tempo real, marcando o início de uma operação cognitiva capaz de agir antes que o problema chegue ao cliente.
O modelo operacional, batizado de AINetOps (Artificial Intelligence for Network Operations), sustenta a transição para redes autoajustáveis centradas na experiência do usuário. Os quatro pilares dessa arquitetura são:
- Inventário e Catálogo de Rede – visão completa e constantemente atualizada dos ativos e serviços;
- Monitoramento Sensing – captura contínua de dados de desempenho e comportamento, incluindo métricas da rede interna;
- Análise Inteligente (IA/ML) – agentes treinados para detectar anomalias, prever falhas e identificar causas-raiz em segundos;
- Ação Autônoma (Closed Loop) – automação de fluxos de provisão e manutenção, com execução automática de correções e ajustes.
Entre as aplicações mais visíveis estão os agentes de Smart WiFi, que analisam o tráfego doméstico, ajustam configurações e orientam reposicionamentos de roteadores sem visitas técnicas. Outros agentes identificam sinais incomuns em gateways, CPEs e set-top boxes, antecipando falhas antes de qualquer impacto perceptível. Também há diagnóstico automatizado com IA e modelos não supervisionados de segurança que reconhecem comportamentos de risco, além de assistentes cognitivos de suporte que classificam e resolvem chamados automaticamente.
O desafio da automação não é apenas técnico: envolve fatores humanos e organizacionais. Redesenhar fluxos internos, capacitar equipes em ciência de dados aplicada a redes, integrar equipamentos legados e estabelecer governança confiável são itens centrais para alcançar a autonomia desejada. Copilotos inteligentes são considerados uma linha de transição, trabalhando junto de técnicos para sugerir soluções em linguagem natural e aprender com logs e tickets.
Mais do que eficiência, a aposta do setor é que a IA redefina a fidelização. A estabilidade da rede na casa do cliente transforma o WiFi em um ativo estratégico de retenção, com operações mais previsíveis e custos menores. Da fibra ao WiFi, quem dominar a “última milha invisível” terá vantagem competitiva duradoura.