Os datacenters tornaram-se ativos estratégicos na economia digital brasileira, especialmente para workloads de IA que demandam GPUs, alta potência de processamento, baixa latência e controle sobre dados. O cenário, porém, avança de forma hesitante devido a incertezas regulatórias que afastam investimentos e reduzem a competitividade regional.
Em setembro de 2025, a União editou a Medida Provisória n° 1.318/2025, criando o Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter — o Redata. O objetivo é oferecer incentivos fiscais condicionados a eficiência energética, sustentabilidade e investimentos em inovação, mas o regime depende de conversão em lei para ter segurança jurídica. Enquanto não fica definitivo, parte do mercado permanece em compasso de espera.
A diferença entre datacenters tradicionais e os voltados à IA é técnica e financeira: os primeiros atendem aplicações corporativas, nuvem e hospedagem, enquanto os de IA precisam suportar cargas intensivas de GPU, consumo energético elevado e sistemas de refrigeração avançados. Sem regras estáveis e incentivos previsíveis, muitos projetos podem migrar para países com menor risco regulatório.
Na região, a América Latina acelera. O Chile lançou um Plano Nacional de Datacenters com foco em atrair investimentos, enquanto o Uruguai já atraiu anúncio de datacenter do Google em Canelones com investimento acima de US$ 850 milhões. A Amazon Web Services também sinalizou investimentos de cerca de US$ 4 bilhões no Chile, fortalecendo o hub regional para IA.
No Brasil, há sinais de movimento: a Equinix expandiu operações e sinalizou o Brasil como mercado prioritário, e grupos como Ascenty, ODATA, Elea, Grupo FS e Tecto Data Centers ampliam ou planejam novas instalações. Ainda assim, o país não alcança todo o seu potencial frente à sua escala de mercado, principalmente diante da insegurança jurídica e da necessidade de consolidar o Redata e um marco regulatório estável, para que decisões de longo prazo deixem de depender de cenários regulatórios.
Além disso, a discussão envolve soberania digital e conformidade com normas como LGPD. Processar dados sensíveis sem infraestrutura local aumenta riscos jurídicos e operacionais. Investir em infraestrutura de IA no Brasil pode fortalecer autonomia tecnológica, desde que haja um ambiente regulatório estável, previsibilidade de custos e clareza sobre licenciamento ambiental e energia.
O futuro dependerá do avanço do Redata, da sua consolidação no PL da Inteligência Artificial (PL 2338/23) e da continuidade de anúncios de investimentos. Mais do que uma discussão técnica, trata-se de uma decisão estratégica: o Brasil pode se firmar como polo regional de processamento avançado ou assumir um papel secundário em uma economia cada vez mais orientada por dados e algoritmos.