A inteligência artificial e a expansão do cloud computing impõem mudanças profundas na infraestrutura de data centers, exigindo mais do que simples adições de servidores. A convergência entre redes, fornecimento de energia e construção industrializada se tornou essencial para ampliar capacidade com baixa latência e maior eficiência energética.
Durante o Data Center AI & Cloud Summit, o painel Integração de Sistemas com Redes e Infraestruturas Físicas de Data Centers destacou que o ecossistema atual precisa de uma abordagem integrada, unindo tecnologia, energia limpa e logística de construção para sustentar o crescimento.
Wellington Menegasso, diretor de vendas do Grupo de Soluções de Infraestrutura (ISG) da Dell Technologies, apontou que o salto de exigência provocado pela IA é considerável. “As cargas mudaram: enquanto racks chegavam a 20 kVA no passado, hoje um servidor com várias GPUs consome muito mais. O resultado é a necessidade de redes com latência inferior a 100 nanosegundos, refrigeração líquida e telemetria conectada à nuvem para monitoramento em tempo real”, afirmou. Ele destacou ainda que a arquitetura precisa ser nativamente inteligente, com distribuição de dados voltada para performance e eficiência.
Construção industrializada reduz prazos e riscos
Essa transformação também mexe com a etapa de construção. Marcos Paraiso, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Modular, explicou que métodos tradicionais não atendem aos prazos exigidos. “A IA acelerou tudo; com crescimento anual de até 30% na demanda, precisamos construir mais rápido, com qualidade e previsibilidade.” A Modular adota um modelo que antecipa 70% da construção para dentro da fábrica, entregando projetos em cerca de 9 meses — frente a 20-24 meses do modelo tradicional. Paraiso ressaltou a importância de manter a escala horizontal, em múltiplos blocos, para não sobrecarregar infraestrutura crítica.
Do lado das redes, Décio Coraça, diretor de engenharia de vendas da Ciena, observou que a interligação entre data centers já saiu dos bastidores para assumir o centro das estratégias digitais. “Canais com até 1,6 Tb/s em duas unidades de rack reduzem consumo de espaço e energia e exigem automação completa e interfaces abertas”, disse. A fabricante enfatiza que velocidade precisa vir acompanhada de escalabilidade e flexibilidade, com arquitetura aberta e componentes de última geração.
Energia: gargalo de transmissão e necessidade de previsibilidade
A energia é o elo crítico para sustentar a densidade computacional de IA. Francisco Scroffa, head de mercado não regulado da Enel, afirmou que a empresa já está reposicionando ativos para atender à demanda digital, com energia limpa e infraestrutura pronta. No entanto, o principal gargalo fica na transmissão: “a energia está concentrada no Norte e Nordeste; o consumo, no Sudeste. A rede ainda não consegue levar tudo com segurança suficiente.” A Enel orienta clientes a migrar operações para regiões próximas às fontes renováveis para maior confiabilidade e custo-benefício.
Leonardo Euler de Morais, vice-presidente de assuntos regulatórios, institucionais e governamentais da Vestas para a América Latina, concordou: “o Brasil tem vocação energética, mas não está pronto para se tornar hub digital sem energia firme, renovável, acessível e disponível 24/7.” Ele pediu reformas no setor elétrico, expansão da malha de transmissão e políticas públicas que integrem geração, armazenamento e uso inteligente de dados e energia.
Gestão inteligente e riscos de cibersegurança
No campo da gestão operacional, Marcelo Duarte, ICT global leader da Emerging International, apresentou o conceito de data center apagado — ambientes operados com mínima intervenção humana, sob supervisão de agentes autônomos. Ele citou o exemplo de Curaçao, onde IA monitora infraestrutura crítica com ferramentas como Grafana, Datadog e Dynatrace. Duarte alerta que automação amplia superfícies de ataque, exigindo proteção integrada desde o piso físico até a camada de software e orquestração.
A Padtec também está se reposicionando, com soluções atualizadas em alimentação elétrica, ventilação e densidade por rack para ambientes com maior exigência térmica e de banda. Alexandre Piovesan destacou que as soluções já estão preparadas para plugáveis coerentes, com uso em hyperscalers. A empresa ainda trabalha junto a governos e bancos para estimular incentivos à expansão da infraestrutura digital — sobretudo no Nordeste, região com maior potencial energético.