Antes mesmo de uma oferta formal entre Claro e Desktop, a Anatel já elevou o tom ao sinalizar preocupações concorrenciais com a possível aquisição, destacando riscos à entrada de novos concorrentes e às condições de competição em São Paulo.
O alerta integra o Relatório de Monitoramento da Competição referente ao terceiro trimestre de 2025, divulgado pela Superintendência de Competição (SCP), que aponta impactos na banda larga, bem como nos segmentos de telefonia fixa e móvel.
A Desktop atua no estado com 1,19 milhão de acessos, enquanto a Claro é a líder nacional em banda larga, com 10,47 milhões de assinantes, dos quais 4,52 milhões estão no estado mais populoso do país.
O relatório destaca que o HHI em São Paulo subiria dos atuais 0,1789 para 0,222, representando uma alta de cerca de 24,09%. Isso por si só geraria preocupações quanto a impactos de integração horizontal, além de potenciais efeitos diagonais, verticais e conglomerais.
Segundo a Anatel, a variação do HHI superaria 20% em um número significativo de municípios, principalmente os mais populosos, com cidades atualmente classificadas como competitivas ou moderadamente competitivas entre as mais afetadas.
No âmbito nacional, a operação também seria relevante: o HHI subiria de 0,0705 para 0,0793 (alta de 12,48%), e o market share da Claro, com a aquisição, passaria de 19,7% para 21,9%, ampliando a vantagem sobre a Vivo.
Em relação aos serviços de telefonia, a Anatel aponta impactos no Serviço Telefônico Fixo Convencional (STFC) e no SMP. No STFC, a Claro lidera com 6,33 milhões de acessos, enquanto a Desktop soma pouco mais de 159 mil linhas fixas ativas; no SMP, a concentração tende a aumentar especialmente em municípios com até 100 mil habitantes.
A agência também alerta sobre o chamado poder de portfólio, em que a empresa pode usar preços de um serviço para fechar participação e compensar queda em outro, o que poderia dificultar a entrada de novos agentes e facilitar condutas lesivas à concorrência.
A divulgação pública de negociações ocorreu em 7 de outubro, com a Desktop confirmando conversas preliminares sem propostas vinculantes; a Claro confirmou interesse na semana anterior. Analistas acreditam que o acordo poderia ampliar a base de fibra da Claro, mas avaliando impactos limitados para AMX.
O regulador enfatiza que a aprovação dependerá de uma análise caso a caso e da avaliação da concentração de mercado, com a possibilidade de retrocessos na competição, menor difusão de serviços e limitações na oferta de fibra óptica para transporte se a transação for concluída.