Cinquenta milhões de brasileiros já utilizam a inteligência artificial (IA) generativa no Brasil, cifra que representa 32% das pessoas com acesso à internet no país. Enquanto isso, a adesão permanece desproporcional, com maior concentração entre as classes A e B e entre quem possui escolaridade superior; nas camadas D e E, o uso cai para apenas 16%.
Os números constam da Pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O estudo reforça que, assim como o acesso à rede, o uso da IA tende a ampliar a lacuna social do país, um efeito já observado em outras frentes digitais. Para Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, a IA ganha relevância em diferentes esferas da vida cotidiana, tornando as desigualdades de renda e educação ainda mais evidentes.
Entre os que declararam adotar ferramentas de IA generativa, 84% disseram utilizá-las para fins pessoais, 53% para pesquisas ou trabalhos escolares ou universitários, e 50% para uso profissional — com respostas que costumam se sobrepor nas categorias avaliadas.
O levantamento aponta impactos na educação: 86% dos estudantes de escolas ou universidades recorreram à IA para pesquisas ou trabalhos acadêmicos. Entre quem não utiliza IA, a principal justificativa entre quem tem até o Ensino Fundamental é a falta de habilidade (65%), o que evidencia a persistente desigualdade no acesso e domínio de tecnologias digitais.
Fabio Storino, coordenador da TIC Domicílios, alerta que, embora a maior parte do uso seja para fins pessoais, as diferenças de instrução refletem ocupações mais digitalizadas onde a IA é empregada no trabalho. Ele ressalta que as discrepâncias indicam que a IA pode ser incorporada de formas distintas por diferentes camadas da população, com potenciais impactos em outras desigualdades. Um exemplo é o uso da IA generativa como instrumento de estudo, o que pode favorecer quem já domina a tecnologia.
Entre as razões descritas para não utilizarem IA generativa, 65% citaram falta de habilidade e 63% falta de conhecimento entre os respondentes com Ensino Fundamental. Em termos globais, 76% afirmaram não ter interesse ou necessidade, 63% mencionaram preocupações com segurança ou privacidade, 58% apontaram a falta de habilidade e 52% a falta de conhecimento sobre a existência da ferramenta.