O Gartner divulgou suas previsões para 2026 e além, destacando o impacto da Inteligência Artificial (IA) sobre mão de obra, soberania tecnológica e novos riscos regulatórios. As projeções indicam transformações estruturais nas relações de trabalho, nos processos de contratação e na arquitetura global de dados e plataformas.
Segundo Daryl Plummer, vice-presidente, analista emérito e chefe de pesquisa de IA do Gartner, os riscos e as oportunidades da rápida mudança tecnológica estão influenciando cada vez mais o comportamento humano. Ele afirma que CIOs e líderes corporativos devem priorizar, simultaneamente, mudanças comportamentais e inovações tecnológicas como prioridades de primeira ordem.
Avaliação de habilidades em IA: o Gartner projeta que 75% dos processos de contratação incluirão certificações e testes de proficiência em IA até 2027. As empresas deverão adotar avaliações padronizadas para mapear lacunas de conhecimento e mensurar o domínio prático das ferramentas de IA, especialmente em funções que envolvem análise, retenção e síntese de informações.
Paralelamente, o uso disseminado da IA generativa pode levar à atrofia das habilidades de pensamento crítico, com a previsão de que metade das organizações globais exigirá avaliações livres de IA até 2026, com o objetivo de diferenciar candidatos que mantenham raciocínio autônomo, sobretudo em setores de alto risco como finanças, saúde e direito.
Fragmentação geopolítica e soberania de dados: um movimento central é a regionalização das plataformas de IA. Até 2027, 35% dos países estarão inseridos em ecossistemas regionais, impulsionados por políticas de soberania digital, diversidade linguística e exigências locais de governança de dados. Soluções globais tendem a perder espaço, e fornecedores precisarão comprovar valor contextual e conformidade regulatória.
O relatório aponta que empresas multinacionais enfrentarão desafios para integrar modelos de IA em mercados com legislações e requisitos de segurança específicos, exigindo estratégias de conformidade adaptadas a cada região. Estima-se ainda que até 2028, 90% das compras B2B serão intermediadas por agentes de IA, movimentando mais de US$ 15 trilhões, com sistemas atuando de forma autônoma em negociações e verificação de dados.
Nas relações de consumo, organizações que utilizarem IA multiagente em 80% dos processos de atendimento ao cliente deverão dominar o mercado, com interações híbridas entre humanos e sistemas automatizados.
Governança e litígios de IA: o relatório alerta que, até o fim de 2026, ações judiciais relacionadas a “morte por IA” ultrapassarão mil casos, devido à insuficiência de mecanismos de segurança e governança algorítmica, pressionando as empresas a adotar medidas preventivas e a tornar os modelos mais transparentes.
A consultoria também prevê que a regulamentação fragmentada de IA deverá cobrir 50% das economias mundiais até 2027, movimentando US$ 5 bilhões em investimentos em conformidade. A proliferação de normas nacionais e regionais, aliada à ausência de definições uniformes sobre o que constitui “IA”, obrigará as organizações a desenvolver programas internos de governança com equipes e softwares dedicados.
IA programável e economia autônoma: o Gartner projeta, ainda, que até 2030, 22% das transações monetárias globais incluirão termos programáveis, permitindo negociações entre máquinas e o surgimento de uma economia autônoma baseada em agentes de IA. Essa tendência exigirá padrões de interoperabilidade e segurança robustos para evitar falhas e vulnerabilidades em transações automatizadas.