O decreto da TV 3.0 chega para consolidar a modernização da TV aberta, incluindo a promessa de qualidade de imagem em 4K (com vislumbres de 8K no futuro). No entanto, a demanda por apenas melhorias de qualidade pode não acompanhar a evolução do consumo, que hoje já valoriza serviços de streaming e mobilidade.
Historicamente, a TV 2.0 trouxe interatividade (GINGA) e mobilidade (1-SEG), mas essas inovações não transformaram o modelo de broadcast. O novo marco volta a explorar o canal de retorno — uma via de comunicação bidirecional entre espectadores e emissoras — desde que casas já possuam banda larga conectada aos receivers 3.0.
Tecnicamente, o grande desafio continua sendo manter a capacidade de broadcast para milhões de pessoas ao mesmo tempo, enquanto se oferece retorno para serviços “internet-like”. Soluções como o 5G-Broadcast prometem aproximar esse equilíbrio, com o retorno aproveitando redes celulares, ainda que haja disputa por espectro entre serviços móveis, terrestres e satelitais, mantendo a evolução em aberto.
Testes recentes na Europa indicam que o caminho para o retorno via redes móveis poderia estar mais perto, mas o Brasil ainda vive um longo período de transição operacional — estimado em 10 a 15 anos — para adaptar emissoras, torres e receptores. A grande vantagem da TV aberta continua sendo a distribuição de um mesmo sinal para grande audiência sem custos adicionais por audiência.
Em resumo, a TV 3.0 representa um passo importante, mas a visão de uma TV brasileira livre, gratuita e universal depende de avanços em infraestrutura, regulação de espectro e adoção de modelos de negócios que aproveitem o retorno interativo sem comprometer o acesso amplo aos cidadãos.