O Congresso Latinoamericano de Satélites, promovido pela Glasberg Comunicações e TELETIME, mostrou que a indústria está em transformação: as empresas passam de provedores de megabits a integradoras de soluções de alto valor agregado. A relevância estratégica dos satélites cresce rapidamente, impulsionada por D2D e redes multi-órbita.
O Direct-to-Device (D2D) tem potencial para redefinir o acesso à conectividade no Brasil, onde apenas 17% da população está conectada (cerca de 29 milhões de pessoas), segundo a TIC Domicílios de outubro de 2024, do CETIC.br. Conectando satélites, smartphones, sensores IoT e veículos, o D2D complementa a cobertura móvel e reduz zonas de sombra de forma prática.
Com 3GPP Release 17 para NB-NTN, o D2D ganha caminho claro para adoção global, permitindo interoperabilidade entre chipsets, operadoras e provedores satelitais. A GSMA Intelligence projeta receitas globais de D2D acima de US$ 30 bilhões por ano até 2035. No Brasil, parcerias locais ajudam a viabilizar o D2D em L-band em conformidade com regulação e necessidades nacionais.
A consolidação das redes multi-órbita também aparece como realidade de mercado. GEO permanece como backbone pela cobertura extensa, enquanto constelações LEO oferecem latência reduzida e capacidade de conexão. Arquiteturas híbridas, integradas a redes nacionais, entregam resiliência e a experiência exigida por mobilidade, governo e serviços críticos. Exemplos globais incluem a parceria com a BSNL na Índia e o trabalho da ESA na Europa, além de esforços da MSSA para ampliar padrões abertos.
No Brasil, o ecossistema vê aplicações em agricultura de precisão, logística e mobilidade avançada, incluindo drones e telemetria crítica. Na aviação, Wi-Fi a bordo com SLAs avançados, TV ao vivo e iniciativas de publicidade com Viasat Ads começam a criar novas frentes de valor. Com D2D amadurecendo e redes multi-órbita ganhando escala, o país pode reduzir zonas de sombra e oferecer soluções sob medida — do campo à cabine de aeronaves, do porto à plataforma offshore.
O histórico do Congresso aponta que satélites passaram de coadjuvantes a protagonistas da conectividade global, e o Brasil tem o território e a vocação para liderar essa nova fase, com o D2D e a integração de órbitas como pilares da transformação.