A adoção de soluções em cloud no Brasil segue acelerada, mas a decisão entre provedores nacionais e internacionais envolve mais do que tecnologia. Segundo Paulo Lima, diretor da Skynova, a soberania sobre dados é um elemento central na discussão, influenciando decisões de governança e investimentos em infraestrutura.
Riscos da nuvem internacional: Lima destaca que, embora o mercado tenha amadurecido, manter dados fora do território nacional pode implicar perda de soberania jurídica e operacional. “Quando armazenamos informações em provedores estrangeiros, os dados ficam sujeitos a legislações externas, como o Cloud Act”, afirma. Além disso, a dependência de infraestrutura internacional aumenta a exposição a instabilidade cambial e a questões de latência que afetam planejamento financeiro e continuidade de negócios, principalmente em setores regulados.
A soberania digital aparece como tema central sob duas dimensões: governamental e corporativa. “A dimensão governamental busca controle estratégico sobre informações sensíveis, enquanto a dimensão corporativa facilita auditorias e o alinhamento com LGPD”, explica Lima. A dualidade aponta para maior autonomia dos executivos de TI na escolha de infraestrutura e proteção de dados críticos.
Custos e conformidade: a cotação do dólar impacta diretamente os custos de cloud internacional, com provedores muitas vezes cobrando em moeda americana e gerando volatilidade. Em contrapartida, a nuvem nacional simplifica a conformidade com a LGPD, reduz custos de transferência de dados e favorece respostas rápidas a incidentes de segurança, reforçando governança e controle.
Multi-nuvem e migração: Lima observa um avanço da procura por nuvens nacionais, especialmente em operações multi-nuvem. Essa abordagem distribui cargas entre provedores e locais diferentes, aumentando segurança, estabilidade e compliance — particularmente em financeiro, jurídico e saúde. Os desafios de migração costumam exigir planejamento de portabilidade, embora frameworks da Microsoft e da AWS já ofereçam caminhos para facilitar a transição.
Para equilibrar custo e performance, o executivo recomenda uma estratégia híbrida: manter workloads sensíveis em nuvens nacionais e deslocar cargas de análise ou colaboração global para nuvens internacionais. Além disso, o mercado já reconhece que infraestrutura 100% nacional não é sinônimo de menor qualidade, já que provedores locais trazem certificações internacionais equivalentes (ISO 27001, PCI DSS) e suporte mais ágil, contribuindo para a eficiência operacional. Em síntese, a escolha entre nuvem nacional e internacional deve considerar soberania, LGPD, custos cambiais e o desenho de uma arquitetura de multi-nuvem com governança robusta, alinhada às necessidades do negócio.