As Redes Não Terrestres (NTN) representam uma evolução para a IoT ao combinar satellites e plataformas aéreas com redes móveis terrestres, ampliando a cobertura para praticamente qualquer região do mundo. Essa abordagem facilita implantar sensores e dispositivos de baixo consumo em locais antes inacessíveis, promovendo monitoramento, automação e resposta rápida a desastres com conectividade contínua.
Entre as arquiteturas que compõem o mosaico NTN destacam-se satélites em órbita baixa (LEO), órbita média (MEO), geostacionária (GEO) e plataformas de alta altitude (HAPS). Os satélites LEO, próximos da Terra, entregam latência muito baixa, ideais para IoT com requisitos de resposta quase em tempo real, mas exigem constelações grandes para cobrir o planeta. Em contrapartida, GEO oferece cobertura ampla com menor número de satélites, porém com latência elevada que limita aplicações sensíveis ao tempo. As plataformas HAPS, balões ou drones de alta altitude, complementam o mosaico com latência próxima à terrestre e implantação flexível, atuando como camada intermediária em regiões específicas.
Na prática, a NTN utiliza padronizações da 3GPP que evoluíram com o Release 17, introduzindo o IoT-NTN para NB-IoT e LTE-M com ligações não-terrestres. O 5G agrega também componentes NR-NTN para conectividade de banda larga via satélite, com modelos de implantação transparent (bent-pipe) e regenerativa. A ideia central é que dispositivos IoT possam alternar entre conexão terrestre e satelital sem exigir hardware distinto, permitindo handovers entre células terrestres e não-terrestres dentro do núcleo 5G.
Desempenho e desafios são inerentes: latência varia drasticamente entre LEO (~20–50 ms) e GEO (acima de 500 ms), exigindo estratégias de transmissão descontínua e armazenagem (store-and-forward) para otimizar energia. A capacidade por satélite é limitada em bandas L e S, ainda que bandas Ku/Ka ofereçam maior throughput, com maior exigência de potência. Regulamentação, roaming entre operadores e dependência de terceiros para infraestrutura criam barreiras de adoção que estão sendo gradualmente endereçadas pela harmonização regulatória e por consórcios internacionais.
Do ponto de vista comercial, as NTN já surgem como pilar estratégico: o mercado global pode crescer de aproximadamente US$ 5,5 bilhões em 2024 para cerca de US$ 192 bilhões em 2034, com CAGR de aproximadamente 43%. A vantagem competitiva envolve alcance global, resiliência de redes e escalabilidade para conectar milhões de dispositivos, desde sensores agrícolas até ativos logísticos em oceano aberto. Modelos híbridos, combinando LPWAN terrestre e enlace satelital, aparecem como solução pragmática para equilibrar custo e cobertura.
Casos de uso práticos vão da agricultura de precisão ao monitoramento logístico, passando por cidades inteligentes e aplicações industriais remotas. Sensorização de solo, rastreadores de frotas, telemetria de plataformas de energia e infraestrutura crítica demonstram como a NTN pode garantir dados confiáveis mesmo em áreas sem infraestrutura terrestre. Com o tempo, a convergência com redes 5G/6G e o aumento da disponibilidade de módulos multi-modais devem tornar os dispositivos NTN mais acessíveis e disseminados, abrindo espaço para serviços globais de IoT sob um único plano de conectividade.