Com metade da capacidade de data centers da América Latina concentrada no Brasil, a indústria nacional vive uma fase de expansão acelerada, impulsionada por cloud computing e, mais recentemente, pela explosão de aplicações de inteligência artificial. Embora o estado de São Paulo lidere esse clusters, o cenário aponta para o surgimento de novas regiões disputando protagonismo.
Num painel do Data Center AI & Cloud Summit, promovido pelo Tele.Síntese e realizado em Santana de Parnaíba, executivos do setor avaliaram estratégias para manter o crescimento sustentável e atrair investimentos, sinalizando a necessidade de alinhamento entre logística, política pública e planejamento urbano.
O prefeito de Santana de Parnaíba, Elvis Cezar, citou a reinvenção da cidade após a saída da Sky, destacando o papel de planejamento urbano e incentivos fiscais na atração de Telefônica e Equinix. “Fomos de quitanda ao data center. A chave foi gerar confiança no investidor e proteger áreas estratégicas com zoneamento adequado e segurança jurídica”, afirmou.
Entre as ações locais, destacam-se a criação de um parque tecnológico voltado a startups e infraestrutura para data centers, além da implantação de uma infovia de 350 km com capacidade de 100 Gbps, cuja rede suportará um dos maiores sistemas municipais de segurança do país.
O avanço da inovação também passa pela infraestrutura de tráfego de dados. Demi Getschko, presidente do NIC.br, revelou que Santana de Parnaíba receberá um data center gêmeo, abrindo o maior ponto de troca de tráfego do mundo e reforçando o papel estratégico da cidade na infraestrutura crítica da Internet no Brasil.
Por outro lado, o crescimento esbarra na escassez de energia. Os executivos alertaram para o risco de perda de ritmo sem planejamento e políticas públicas estáveis, apontando reservas elétricas espreguiçadas por empresas que não atuam no setor como um gargalo real. “A reserva especulativa de energia pode comprometer projetos de IA que demandam energia em grande escala”, disse Alessandro Lombardi, CEO da Elea Data Centers.
Marcos Siqueira, CRO da Ascenty, ressaltou que a energia precisa estar disponível no tempo certo, pois várias decisões de instalação dependem da disponibilidade imediata. Rodrigo Abreu, CEO da Omnia Data Centers, comparou o desafio a “criar uma cidade de 200 mil habitantes em dois anos” e defendeu a aceleração do planejamento do sistema elétrico para acompanhar o novo ritmo da indústria digital.
Entre as oportunidades, o grupo aponta a vantagem de um grid nacional integrado que facilita o uso de energia renovável regional. Victor Arnaud, presidente da Equinix, destacou que o Brasil detém uma vantagem competitiva se o timing de atuação for bem aproveitado. Além disso, a pauta fiscal permanece central: o projeto Redata ainda não foi implementado, e a previsibilidade regulatória é cobrada como condição indispensável para manter investimentos de longo prazo. A tendência de descentralização também impulsiona data centers menores na borda da rede, com ISPs migrando para provedores de TI e edge computing, conforme observam os especialistas.
Em termos de capital humano, o debate trouxe um veredicto ambicioso: há mão de obra disponível, mas é fundamental uma previsibilidade regulatória para formar talentos de qualidade em IA e cloud computing. Enquanto a Connectoway já treinou mais de 10 mil profissionais nos últimos três anos, os executivos ressaltam que a educação técnica deve caminhar lado a lado com políticas estáveis, para que o Brasil continue a atrair investimentos bilionários no setor.
