O tema ganhou proporções sem precedentes no setor de telecomunicações, com relatos confidenciais de que o crime organizado vem avançando sobre torres de celular, redes de cabo e a infraestrutura de fibra óptica.
O que antes era uma soma de episódios pontuais — furtos, sequestros de torres em áreas de risco e interrupções de serviços em comunidades — evoluiu para a paralisação de grandes áreas urbanas, com provedores tradicionais sem viabilidade de operar ou manter ERBs em determinados perímetros.
Conseqüência direta é a perda de clientes e a retração de investimentos. Em algumas capitais, provedores indicam reduções significativas do potencial de mercado, enquanto outros relatam a entrega de estruturas a facções criminosas para evitar operar nessas áreas tidas como de alto risco.
O modus operandi é repetitivo: funcionários são ameaçados, lojas e redes são vandalizadas, o acesso a áreas é bloqueado até que a operadora ceda ou pague uma “taxa de segurança”; em bairros fortemente ocupados, há relatos de dezenas de prestadores de serviço atuando de forma paralela. O cenário já mobiliza as autoridades, com a Anatel, o Ministério da Justiça, o Ministério das Comunicações e o Ministério Público em reuniões públicas, ainda que não haja solução simples.
Para enfrentar o problema, especialistas destacam o papel da tecnologia como aliada: bloqueios de tráfego na camada de transmissão, degradação de serviços clandestinos, ou desativação remota de equipamentos podem ser usados para mitigar danos sem depender apenas do aparato policial. O NIC.br é apontado como ator relevante para a regulação e monitoramento do ecossistema de redes, indo além da simples distribuição de IPs.
Estimativas indicam que cerca de 20% da população brasileira vive sob controle de facções criminosas, o que equivale a quase 29 milhões de pessoas e estabelecimentos. Soluções de curto prazo incluem redirecionamento de tráfego para denúncias, oferta de serviços subsidiados em áreas tomadas e estratégias de retomada de territórios com proteção policial permanente, enquanto políticas públicas devem buscar a reorganização de um mercado informal em um ambiente regulado, antes que a situação se agrave ainda mais.