O Brasil desponta como potencial hub global de data centers durante a Futurecom 2025, alavancado pela disponibilidade de energia renovável, pela capilaridade da infraestrutura digital e pela crescente demanda por aplicações de inteligência artificial.
Líderes do setor destacam que, para cumprir esse papel, o país precisa superar gargalos regulatórios, de conectividade, tributação e logística energética que ainda dificultam operações em larga escala.
Renan Lima, presidente da Associação Brasileira de Data Centers (ABDC), ressaltou o avanço do edge computing e afirmou que grande parte da nuvem brasileira ainda está fora do país, reforçando o potencial de o Brasil se tornar um hub num mercado cada vez mais hiperconectado pela IA.
Ele observou que a energia elétrica é o principal gargalo da IA, mas que o Brasil já dispõe de eficiência e pode aproveitar a infraestrutura existente para exportar dados com base em energia renovável. A expectativa é de que a Política Nacional de Datacenters (ReData) reduza custos e ofereça estabilidade fiscal para facilitar a exportação de dados.
André Busnardo, diretor da Tecto Data Centers, lembrou que a empresa nasceu com incumbência de infraestrutura e evolução para atender IA, destacando Fortaleza como um ecossistema que impulsionou o setor. A Tecto tem projeto em Santana de Parnaíba, SP, com 200 MW de energia, e novos empreendimentos em vista, ressaltando que o ReData elimina um primeiro bloqueio, mas dois desafios permanecem: estabilidade regulatória na proteção de dados e gargalos na transmissão e distribuição de energia.
Victor Arnaud, presidente da Equinix no Brasil, afirmou que o país é o maior mercado da América Latina e, com o ReData, pode tornar-se um polo global de data centers. Ele defendeu que a regulação acompanhe o ritmo da inovação e enfatizou a importância de incentivar a regionalização para ampliar a capilaridade e a soberania digital.
Crislaine Corradine, da Elea Data Centers, informou que a companhia opera nove unidades no Brasil e está migrando de edge para hyperscale em SP e RJ. Ela destacou o ReData como acelerador do volume de dados e ressaltou que a burocracia ainda atrasa licenças (outorgas) no Brasil, levando mais tempo que em outros lugares, além de projetar redução tributária e extensão de benefícios com a medida. A executiva também pediu incentivos diretos à infraestrutura, apontando que quase todos os equipamentos são importados e que a carga tributária impacta o custo de expansão.
Matheus Rodrigues, sócio-líder da Deloitte, afirmou que o ReData “asfalta a avenida”, mas que os desafios de regulação, suprimentos e financiamento ainda precisam de soluções. Ele destacou que não se espera um salto imediato para 10 gigawatts, mas sim uma trajetória gradual com estratégia adequada, aliada a incentivos municipais, sustentabilidade e à disponibilidade de recursos naturais como água e energia renovável. Para ele, é preciso ampliar o debate sobre financiamento, com participação de entidades além do BNDES.