A inteligência artificial é a tecnologia com adoção mais rápida da história. Em menos de três anos, mais de 1,2 bilhão de pessoas utilizaram ferramentas de IA. No entanto, o estudo da Microsoft mostra que esse avanço ocorre de forma desigual: o Norte Global tem o dobro de uso comparado ao Sul Global, e o Brasil aparece na 60ª posição entre 164 nações, com uma taxa de difusão de 15,6%.
A difusão da IA segue o mesmo padrão observado em tecnologias estruturantes como eletricidade e computação: sua consolidação acontece quando três grupos avançam juntos — Frontier Builders (criadores de modelos e pesquisadores), Infrastructure Builders (data centers, redes e ferramentas) e usuários (que aplicam a tecnologia a problemas reais). Assim como na eletricidade, não basta inventar a lâmpada; é preciso construir a rede e formar usuários.
A IA depende de bases como eletricidade, conectividade, computação e habilidades digitais. Metade da população mundial — cerca de 4 bilhões de pessoas — ainda carece de ao menos um desses pré-requisitos. Em regiões com infraestrutura tecnológica e renda mais elevadas, a adoção avança rapidamente: Emirados Árabes Unidos, Singapura, Noruega e Irlanda já registram mais de 50% da população em idade ativa usando IA, enquanto em partes da África Subsaariana e do Sudeste Asiático o índice fica abaixo de 10%.
O estudo aponta ainda que o Brasil aparece na 60ª posição em ranking de 164, com 15,6% de difusão. A metodologia envolve telemetria agregada de mais de um bilhão de dispositivos, buscando estimar a prevalência de atividades relacionadas à IA em diferentes regiões e complementando dados de terceiros para cobrir dispositivos sem Windows.
Barreiras para a difusão incluem o idioma: modelos de IA costumam ser mais precisos em inglês e outras línguas com grande conteúdo digital. Países onde há predominância de línguas com menor presença online, como Malawi e Laos, mostram taxaa de adoção menores, mesmo com acesso à internet. Além disso, 86% da capacidade global de data centers para IA está nos EUA e na China, com observação de que a distância para a fronteira tecnológica vem diminuindo, como aponta Israel, em sétimo lugar, próximo de alcançar esse patamar.
O relatório destaca que o valor da IA não será medido apenas pela produção de modelos, mas pela extensão de seus impactos sociais. Lições históricas, como a transformação econômica da Coreia do Sul, mostram que países podem ganhar escala por meio da adoção e adaptação, mesmo sem liderar a invenção. A mensagem central é clara: na próxima década, quem difundir e utilizar a IA de forma eficaz definirá o ritmo do progresso, enquanto políticas de infraestrutura digital, capacitação e inclusão linguística serão cruciais para evitar o aumento de desigualdades.